Famílias locais, caciques e lideranças de outras aldeias formaram uma pequena multidão para recepcionar a jovem guerreira Alessandra Korap na noite da última terça-feira (2), na Aldeia Praia do Índio, zona ribeirinha de Itaituba (PA). A líder indígena de 39 anos foi agraciada com o prêmio Goldman de Meio Ambiente no dia 24 de abril, em cerimônia na cidade de San Francisco, nos Estados Unidos.
Obedecendo às tradições da etnia Munduruku, Alessandra foi recebida com aplausos e cânticos nativos, além de pintura ritualística do seu povo. Ela é considerada uma das maiores ativistas indígenas da Amazônia. Aos 39 anos, a líder já esteve em seis (6) países defendendo a causa indígena, destacando demandas historicamente prioritárias, como: saúde e educação de qualidade, moradia digna, infraestrutura, saneamento e demarcação.
Foram essas referências que deram a ela bagagem suficiente para ser agraciada pelo prêmio Goldman de Meio Ambiente – outorga considerada, mundialmente, como o nobel verde. “Eu fico muito feliz de levar nossa voz ao mundo todo, porque é muito importante saber que nós existimos e que nós estamos aqui e vamos continuar aqui defendendo nosso rio, a nossa vida, o nosso território. Isso é mais importante. Trazer aqui é muita alegria, muita satisfação trazer aqui aos caciques, lideranças e crianças. As crianças são o futuro. Tá apenas algumas das aldeias. Nosso povo é muito mais […]”, destacou Alessandra.
Instituído em 1990 por um casal de filantropos norte-americanos, o prêmio Goldman de Meio Ambiente é outorgado anualmente a seis (6) personalidades que se destacam na causa ambiental, envolvendo todos os continentes. Alessandra Korap foi a quarta brasileira a receber a comenda. Em casa, ela foi recebida com honras, em mais um reconhecimento por tudo que defendeu desde 2014.
“Ela começou a luta desde o tempo em que ela fechou a Estrada do 53º BIS. Aí, ela fechou, e nós continuamos trabalhando, lutando como liderança. Ela entrou como guerreira. Até hoje, ela guerreira”, Brasilino Paygõ – Cacique da Praia do Índio.
Entre os indígenas que receberam a líder ativista, estava a mãe dela – Dona Marileide Korap -, que sente uma mistura de orgulho e temor pelo destaque e pelo espírito guerreiro da filha.
“Eu fico com o coração na mão, né? Mas eu fico muito feliz, que ela tá lutando, é aqui que ela nasceu, se criou e teve os filhos”, disse a mãe.
A recepção da guerreira Munduruku foi acompanhada pelo Coordenador Regional da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e também liderança indígena, Hans Kabá. Para ele, Alessandra é um exemplo que pode ser seguido em defesa da causa indígena e do meio ambiente.
“A Alessandra, mais uma vez, através dela, mas em nome de todo o povo Munduruku, conseguiu o prêmio nesse ponto de que realmente está focado em segurança de vida para a sociedade Munduruku”, Hans Kabá
“Muita gente me achou meio maluca por estar lutando e por defender, mas eu sabia o que eu tava lutando. Eu sabia que a gente não poderia entregar a nossa vida às mãos das grandes mineradoras ou de qualquer projeto que venha achar que nós temos que ganhar dinheiro em cima da nossa morte. Não, a gente tem que defender a nossa vida e o futuro das nossas crianças. A responsabilidade é muito grande porque não é só minha voz, mas também do povo”, finalizou Alessandra.
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