Em 10 dias, entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, três pessoas morreram em Belém, vítimas de violentas descargas elétricas. As fatalidades ocorreram em ambientes externos e próximos de fios de alta tensão. Em geral, o aumento no volume de chuvas torna mais propício o risco de choque elétrico, entre outros acidentes desse tipo.
De acordo com o capitão Israel Souza, do Corpo de Bombeiros Militar do Pará (CBM-PA), é preciso redobrar o cuidado com descargas elétricas, a exemplo de raios, nesta época do ano. Também cabe uma cautela maior com os alagamentos que surgem em especial no chamado inverno amazônico.
“Dentro de casa deve-se evitar utilizar o celular quando estiver conectado diretamente no carregador, evitar também as pessoas que estão frequentando praias ou piscinas. Ao iniciarem as chuvas, é necessário sair da água e procurar um local abrigado, seguro, e não ficar embaixo de árvores. Se mesmo assim algum incidente acontecer, ligar para o 193. O CBM mantém à noite todas as suas equipes de plantão, prontas para fazer qualquer atendimento, e esses militares estão treinados e têm toda a logística adequada para fazer os atendimentos da corporação”, orienta a autoridade militar.
Morador do bairro do Jurunas, Klebson Borges, de 32 anos, conta que na adolescência, ele foi vítima de uma descarga elétrica dentro de casa, após ter entrado no molhado da chuva, e ter ligado um aparelho na tomada.
“Era período de férias escolares, no início do ano, eu e meus primos tínhamos o costume de irmos brincar na chuva. Em uma dessas vezes, saí da chuva, e ainda molhado, entrei em casa, e fui ligar uma tomada, foi quando tomei um choque tão forte que minha mão ficou totalmente queimada. Eu não conseguia soltar da tomada, minha tia teve que desligar a corrente elétrica geral da casa para que eu, literalmente, me desgrudasse. Hoje, em casa, a recomendação total é que quando começam as chuvas, não devemos ficar nos telefones, e principalmente em ligações, e claro, evitar ficar na chuva, para evitar possíveis acidentes”, relata, sem esconder o trauma pelo incidente.
O meteorologista da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), Antônio Sousa, ressalta que nos meses de fevereiro e março deste ano, o indíce de chuvas deve aumentar e prevalecer em todas as regiões do estado.
“A rede formada pela Semas, Instituto Nacional de Meteorologia (Inpe), Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Centro Gestor Operacional do Sistema de Vigilância da Amazônia (Censipam) apresenta previsões de consenso da precipitação em cada mês para este primeiro trimestre de 2023, e o acumulado do trimestre para o Estado. No prognóstico para janeiro de 2023 há indicativo de chuvas na categoria acima do normal em grande parte do Pará. A exceção fica por conta da porção Leste e municípios da região da Calha Norte (Alenquer, Almeirim, Curuá, Faro, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Prainha e Terra Santa), com previsão de chuvas entre as categorias normal e abaixo do normal em alguns pontos isolados”, antecipa.
Previsão para a RMB – Na análise e previsão climática para fevereiro, o boletim, elaborado pela equipe técnica do Núcleo de Monitoramento Hidrometeorológico da Semas, aponta tendência de chuvas acima do normal em toda a porção Norte, Região Metropolitana de Belém, Nordeste e faixa central do Estado.
Raios – O Brasil é o país com mais incidência de descargas elétricas no mundo. Só nos dois últimos anos caíram 280 milhões de raios no território nacional. As mudanças climáticas têm influência direta, segundo o Inpe; a previsão é que a média anual continue aumentando até o fim do século.
Um levantamento do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat, órgão do Inpe), indica que a estimativa é que a média nacional passe de 70 milhões para 100 milhões de raios nas próximas décadas, devido ao clima.
O desmatamento na Amazônia, a subida da temperatura e o fenômeno La Niña se unem ao fator preponderante de que o Brasil é a maior área tropical do planeta com um verão quente e úmido. A combinação é perfeita para a formação de tempestades.
Incidência – Apesar dos riscos, a chance de uma pessoa ser atingida diretamente por um raio é muito baixa. Em média menor do que uma chance em um milhão. Isso diminui a necessidade de precaução? Não, de jeito nenhum.
O perigo aumenta de acordo com a localização. A exposição em áreas abertas eleva o risco para uma chance em mil. Outros efeitos graves ocorrem por incêndios e quedas de energia.
Os locais mais frequentes, onde houve mortes foram: áreas rurais, proximidade de redes elétricas ou hidráulicas, atividades na água (praias, rios ou piscinas), embaixo de árvores, regiões descampadas e até dentro de casa.