quarta-feira, novembro 20, 2024

Alessandra Korap Munduruku é uma das ganhadoras do Prêmio Goldman de Meio Ambiente 2023

Alessandra é de Itaituba, e foi uma das seis pessoas premiadas com o Prêmio Goldman de Meio Ambiente em 2023 pelos esforços de ativismo ambiental

A liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, de Itaituba foi uma das seis vencedoras do Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2023. Concedido anualmente desde 1990 a seis ativistas de diferentes regiões – África, Ásia, Europa, Ilhas e Nações-Ilhas, e Américas (do Norte, do Sul e Central) – Alessandra foi escolhida por sua dedicação e liderança na luta incansável do povo Munduruku pela defesa de seu território e dos direitos dos povos indígenas. Os outros seis vencedores, selecionados por um júri internacional a partir de indicações confidenciais feitas por uma rede mundial de organizações ambientais e indivíduos, são da Zâmbia, Indonésia, Turquia, Finlândia e Estados Unidos.

A mobilização dos Munduruku em uma campanha para evitar que a empresa britânica de mineração Anglo American prosseguisse com seus planos de extrair cobre em territórios indígenas, e o papel decisivo da Alessandra nesse processo, foi central para a escolha de seu nome para o recebimento do prêmio. Em maio de 2021, a mineradora se comprometeu formalmente a retirar 27 pedidos de pesquisa aprovados pela Agência Nacional de Mineração em territórios indígenas nos estados de Mato Grosso e do Pará. Desses pedidos, 13 impactavam diretamente o território de Alessandra, a Terra Indígena Sawré Muybu no médio Tapajós.

Alessandra faz parte do forte e organizado movimento de resistência de base Munduruku, que inclui Caciques, mulheres e crianças. Em 2021, ela foi escolhida pelas 13 aldeias Munduruku do Médio Tapajós para ser coordenadora legítima da Associação que representa do povo Munduruku do Médio Tapajós -Pariri e se juntar com outras associações de resistência do povo Munduruku. Segundo ela: “Tudo que faço na minha luta é feito com e para o coletivo. As lideranças Munduruku não agem individualmente nem buscam reconhecimento individual. Minha luta e minha voz fazem parte de processos coletivos de muita resistência, junto com os Caciques e outras lideranças que se levantaram pelos nossos direitos.”
 

Aos 39 anos, Alessandra Munduruku é a quarta brasileira a ser homenageada com o prêmio na categoria América do Sul e Central. Em 2006, o ambientalista Tarcísio Feitosa recebeu o prêmio por sua trajetória em defesa da região do Xingu e da Terra do Meio, no Pará. A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi reconhecida por sua atuação na criação das Reservas Extrativistas no Acre em 1996. O primeiro brasileiro a ser laureado com o Goldman Prize foi um dos fundadores do Instituto Socioambiental (ISA), Carlos Alberto Ricardo, em 1992, por sua atuação na garantia dos direitos dos povos indígenas.

Alessandra nasceu e foi criada na Aldeia Praia do Índio, uma reserva indígena Munduruku localizada às margens do rio Tapajós, na cidade de Itaituba, estado do Pará. O Tapajós é um dos rios amazônicos mais importantes – e um dos últimos grandes afluentes do Amazonas que ainda não foi barrado para geração de energia. A bacia do rio Tapajós é o território tradicional do povo Munduruku, mas hoje está ameaçada por uma série de projetos de infraestrutura apoiados pelo governo – desde mineração até extração de madeira, grilagem de terras e mais. Isso também inclui a barragem de São Luís do Tapajós, que ameaça inundar o território Sawré Muybu Munduruku, e a Ferrogrão, uma ferrovia de quase 1000 km de extensão que atravessa o Pará com o objetivo de baratear os custos de exportação de soja pela Amazônia. O movimento de resistência Munduruku tem sido fundamental na proteção das florestas contra cada um desses projetos.

Alessandra Munduruku na COP26 — Foto: Redes Sociais

Na última década, Alessandra se tornou uma das lideranças indígenas mais proeminentes na defesa da Amazônia, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. A partir de 2015, ela participou da luta dos povos indígenas e tradicionais contra uma série de barragens hidrelétricas que estavam planejadas para serem construídas em sua região e, em 2015, juntou-se ao povo Munduruku em sua bem-sucedida oposição aos planos do governo de construir a Usina Hidrelétrica de São Luís do Tapajós. Embora o projeto tenha sido arquivado em 2016, os Munduruku temem que ele possa ser reativado a qualquer momento. Hoje a principal luta é a demarcação dos territórios Munduruku do Médio Tapajós principalmente TI Sawre Muybu.

Como parte de um movimento emergente de lideranças indígenas femininas, Alessandra teve que conquistar o reconhecimento dos Caciques e do povo Munduruku. Ela também teve que enfrentar os desafios de conciliar um ativismo político incansável com o papel de mãe e exemplo para outras mulheres. Em 2018, decidiu estudar Direito para melhor representar os Munduruku: “Meu sonho é um dia poder defender os direitos do meu povo diante do Supremo Tribunal Federal”.

Nos últimos anos, o dano causado pelo garimpo tem sido o centro das lutas e organização do povo Munduruku. O garimpo levou a danos irreparáveis ao rio Tapajós e aos Munduruku. Em 2016, Alessandra e outras mulheres Munduruku exigiram através de carta que pesquisadores investigassem a contaminação por mercúrio no Tapajós e nos Munduruku. Uma série de estudos realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que todos os Munduruku que vivem nas aldeias de Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy sofrem de contaminação por mercúrio e que mulheres e crianças são as mais vulneráveis. A origem do mercúrio é a mineração ilegal, e Alessandra dedicou os últimos anos a denunciar, realizar e organizar medidas de proteção territorial contra a extração ilegal de ouro nas terras Munduruku.

Alessandra Korap Munduruku é uma das lideranças entre os Munduruku que habitam região do Tapajós, no Pará — Foto: GOLDMAN ENVIRONMENTAL PRIZE via BBC

Parar o plano da Anglo American de explorar cobre em Sawre Muybu foi uma das muitas lutas assumidas por Alessandra e o povo Munduruku que a levou a receber o Prêmio Goldman. Em maio de 2021, a empresa britânica de mineração se comprometeu formalmente a retirar 27 licenças de pesquisa de mineração que deveriam se sobrepor a terras indígenas no Brasil, incluindo o território Munduruku de Sawré Muybu. Essas licenças representavam uma grande ameaça aos povos indígenas, bem como aos seus territórios e meios de subsistência. Essa vitória resultou de nossa campanha contínua com o povo Munduruku, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e a Amazon Watch.

A premiação será feita ao vivo nos dias 24 de abril em São Francisco e 26 de abril em Washington, DC. Alessandra viajou acompanhada do grande Cacique Juarez Saw Munduruku.

Os demais vencedores foram:


ÁFRICA
Chilekwa Mumba, Zambia

Alarmado com a poluição produzida pela operação da Konkola Copper Mines na província de Copperbelt, na Zâmbia, Chilekwa Mumba organizou um processo judicial para responsabilizar a empresa controladora da mina, Vedanta Resources. A vitória de Chilekwa no Supremo Tribunal do Reino Unido estabeleceu um precedente legal – foi a primeira vez que uma empresa britânica foi responsabilizada pelos danos ambientais causados por operações de subsidiárias em outro país. Esse precedente já foi aplicado para responsabilizar a Shell Global – uma das 10 maiores corporações do mundo em receita – por sua poluição na Nigéria.

 

ÁSIA
Zafer Kizilkaya, Turkey

Em colaboração com cooperativas locais de pesca e autoridades turcas, Zafer Kizilkaya expandiu a rede de áreas marinhas protegidas (AMPs) da Turquia ao longo de 498,89 quilômetros da costa do Mediterrâneo. As áreas recém-designadas foram aprovadas pelo governo turco em agosto de 2020 e incluem uma expansão da rede de AMPs em 350 km² de áreas sem arrasto e sem cerca e mais 70 km² de zonas de não pesca. O ecossistema marinho da Turquia foi severamente degradado pela sobrepesca, pesca ilegal, desenvolvimento turístico e os efeitos das mudanças climáticas – e essas áreas protegidas colaboram para mitigar esses desafios.


EUROPA
Tero Mustonen, Finland

Desde abril de 2018, Tero Mustonen liderou a restauração de 62 antigas áreas de mineração de turfa e de florestas altamente degradadas em toda a Finlândia – totalizando 86.000 acres (cerca de 34.803 hectares) – e as transformou em pântanos e habitats produtivos e biodiversos. Ricas em matéria orgânica, as turfeiras são sumidouros de carbono altamente eficazes. De acordo com a UICN, as turfeiras são as maiores reservas naturais de carbono da Terra. Cerca de um terço da superfície da Finlândia é formada por turfeiras.


ILHAS E NAÇÕES INSULARES
Delima Silalahi, Indonesia

Delima Silalahi liderou uma campanha para assegurar a administração legal de 17.824 acres (cerca de 7.211 hectares) de terras de floresta tropical para seis comunidades indígenas no norte de Sumatra. O ativismo de sua comunidade recuperou esse território de uma empresa de celulose e papel que o havia convertido parcialmente em uma monocultura, não nativa, de eucalipto industrial. As seis comunidades começaram a restaurar as florestas, criando valiosos sumidouros de carbono de floresta tropical indonésia biodiversa.


AMÉRICA DO NORTE
Diane Wilson, United States
Em dezembro de 2019, Diane Wilson ganhou um caso histórico contra a Formosa Plastics, uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, pelo despejo ilegal de resíduos plásticos tóxicos na costa do Golfo do Texas. O acordo de 50 milhões de dólares é o maior prêmio em um processo cidadão contra um poluidor industrial na história da Lei de Águas Limpas dos EUA. Como parte do acordo, a Formosa Plastics concordou em atingir “descarga zero” de resíduos plásticos de sua fábrica Point Comfort, pagar multas até que as descargas cessem e financiar a remediação das áreas úmidas, praias e cursos d’água locais afetadas.

Fonte: Portal Plantão 24horas News, com informações Camila Rossi – Approach

RELACIONADOS

Mais Visualizados