O aposentado Eraldo Antônio, 73 anos, descobriu o câncer de pulmão em julho deste ano. Desde o diagnóstico, ele realiza consultas e têm acompanhamento diário dos médicos do Hospital Ophir Loyola. Há 20 anos Eraldo parou de fumar, porém trabalhava em laboratório e lidava com substâncias químicas. “Eu fazia muitas pesquisas com minerais, me expus muito durante a vida, não me cuidava, era relaxado. Uma vez cheguei a me queimar com ácido e nunca procurei um médico para me curar. Hoje toda essa exposição dentro do laboratório pode ter causado a doença”, acredita o aposentado.
Considerado o terceiro tipo de câncer mais comum entre os homens, o câncer de pulmão, em 90% dos casos, tem como origem o tabagismo e a exposição ao tabaco de forma passiva. Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de sobrevida média de cinco anos para câncer de pulmão é de 18%, mas quando ele é identificado em estágio inicial esse número aumenta para 56%.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa para casos novos é de mais de 17 mil em homens. O Hospital Ophir Loyola, referência em oncologia no estado do Pará, atende atualmente 112 homens com a doença. O cirurgião torácico Antonio Bomfim, afirma que no Brasil ainda existe uma maior prevalência em homens, em relação às mulheres, que fumam ou fumaram em algum momento da vida, porque a carga tabágica -multiplicação do número de maços fumados por dia pelo número de anos de tabagismo – é ainda maior no público masculino.
“Nos Estados Unidos essa incidência já está igualada e no Brasil ainda é maior nos homens. Além disso, o público masculino começou a fumar antes, na época da revolução industrial e, por conta disso, nós temos essa disparidade no número de casos”, afirmou Antônio.
As faixas etárias mais afetadas são homens e mulheres com mais de 50 anos. “No ano de 2020, muitos casos foram descobertos a partir da busca pelo diagnóstico de doenças virais, como a covid-19, incluindo pessoas entre 30 e 40 anos”, ressaltou o especialista. Os sintomas da doença podem variar, como tosse persistente e com sangue, perda de peso, falta de ar, dor no peito, rouquidão e até complicações neurológicas.
O diagnóstico precoce é obtido por meio de radiografias de tórax, complementadas por tomografias computadorizadas e exames que indicam que a suspeita de câncer de pulmão pode ser investigada. Quando um paciente desenvolve sintomas, o diagnóstico geralmente é feito com base no que ele apresenta.
Em relação aos riscos do tabagismo, o especialista lembra que se o indivíduo ainda fuma, precisa parar o mais rápido possível, pois o tabaco não traz benefícios. Ele afirmou que sem cigarros o indivíduo melhora o paladar, o olfato e a qualidade de vida.
“Após anos sem o cigarro a função cardíaca volta aos padrões e o risco de câncer vai diminuindo conforme vão passando os anos. Se o paciente tem câncer e continua fumando, o tabagismo atrapalha o tratamento e piora o resultado”, destacou o cirurgião.
O tratamento do câncer de pulmão requer a participação de um grupo multidisciplinar para a decisão da melhor conduta para o paciente. Em geral, pode ser feito com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, associadas ou não. Portanto, o tratamento depende do tipo histológico e do estágio da doença. “Para prevenir a doença, além de não fumar, é necessário evitar o tabagismo passivo, a exposição a agentes químicos que estão presentes em determinados ambientes de trabalho, como o arsênico, asbesto, berílio, cromo, radônio e níquel”, orienta Antonio Bomfim.
Texto de Viviane Nogueira