O desaparecimento de uma mulher na cidade de Uruará, no sudoeste do Pará, resultou na qualificação do crime como feminicídio cruel com ocultação de cadáver, após um eficiente trabalho investigativo da Polícia Civil. Esse caso é um exemplo do quão bárbaro, perverso e frio o ser humano pode ser.
A mineira Karine Gabriele Santos, de 29 anos, foi vítima de um crime de feminicídio cruel. Seu corpo foi colocado dentro de uma mala e descartado no meio da selva amazônica, a 40 km do centro urbano de Uruará, nas proximidades da PA-370. O corpo já estava em fase de esqueletização quando foi encontrado. O suspeito pelo assassinato e ocultação do cadáver é seu companheiro, Wandeilson de Assis Barbosa, de 35 anos, com quem ela namorava desde novembro de 2023 e começou a morar junto em abril de 2024. Ele foi preso durante a operação Stalker da equipe de plantão na Delegacia de Polícia Civil, ocorrida na quarta-feira, 18/09, durante o cumprimento de um mandado de prisão temporária e dois mandados de busca e apreensão criminal expedidos pelo juízo da comarca de Uruará. A prisão aconteceu após 40 dias do início das investigações. Wandeilson usou o celular da vítima por várias semanas, se passando por ela.
Segundo a polícia, após ser preso, Wandeilson confessou o crime e indicou o local onde havia deixado o corpo da namorada.
O local no meio da floresta amazônica ficava em um ramal rústico a cerca de 300 metros das margens da PA-370, possivelmente utilizado por madeireiros.
Na tarde dessa quarta-feira (18), uma equipe da Perícia Criminal do IML de Altamira (PA) (Polícia Científica) esteve no local realizando os primeiros procedimentos periciais e removendo os restos mortais da vítima para serem levados para Altamira, onde passarão por exames periciais detalhados que podem indicar se a vítima chegou a ser esquartejada. Posteriormente, os restos serão entregues aos familiares.
A operação realizada nesta quarta-feira foi liderada pelo Delegado Leandro da Conceição Benício e pela equipe de investigadores do plantão na Delegacia de Polícia Civil de Uruará. Contou também com o apoio dos policiais do 49º Batalhão de Polícia Militar.
As investigações policiais apontam que o assassinato ocorreu na madrugada do dia 7 de julho de 2024, em uma residência na Rua Presidente Vargas, no Bairro Baixada. Isso aconteceu poucos dias depois que o casal retornou do estado de Goiás para morar em Uruará.
O suspeito usou o celular da vítima até o dia 2 de agosto. O crime ocorreu em 7 de julho. Durante todos os contatos que teve com a polícia — inicialmente como testemunha — ele se mostrava frio e sem remorso, conforme apontam as investigações.
Karine Gabriele Santos, natural de Minas Gerais, veio para o Pará em junho deste ano. Segundo sua família, Karine vivia em Santo Antônio do Descoberto, município de Goiás, e se mudou para Uruará acompanhada do companheiro conhecido como “Vandinho”. A última vez que a família teve contato com ela foi no dia 6 de julho, um dia antes do crime acontecer. Desde então ela estava desaparecida.
De acordo com a família, Karine trabalhava em um supermercado em Uruará. Ela era mãe de um menino de 10 anos e gêmeas. O desaparecimento dela chegou a ser divulgado na imprensa por seus familiares.
O suspeito trabalhava em uma oficina de motos no centro da cidade e utilizou uma motocicleta para transportar a mala com o corpo da vítima e descartá-la no meio da selva.
Ainda segundo as investigações, Wandeilson teria afirmado que matou a companheira após um desentendimento entre eles; houve uma briga e então o assassinato foi consumado. Até agora ele não deu detalhes sobre como matou Gabriele.
“A investigação foi iniciada a partir de um Boletim de Ocorrência registrado na Delegacia Virtual da Polícia Civil do Pará e tramitado para a Delegacia de Uruará. Aqui, começamos a apuração dos fatos, sendo possível constatar, por meio de técnicas avançadas de investigação e inteligência policial, que Wandeilson Barbosa, companheiro da vítima, usou o aparelho celular dela por cerca de um mês após seu desaparecimento. Assim, era possível supor naquele momento que a vítima estava viva, mas sua localização não coincidía com as informações prestadas por ela própria. Além disso, a vítima não recebia ligações pelo WhatsApp e não enviava mensagens de áudio, o que aumentou as suspeitas de que ela estivesse morta e que seu aparelho celular estivesse sendo usado por um terceiro”, contou o delegado Leandro Benício, titular da Delegacia de Polícia Civil de Uruará e responsável pelo inquérito policial.
“No local do crime, foi possível observar os restos mortais espalhados sobre a vegetação do solo da floresta. Dentro da mala azul, possivelmente pertencente à própria vítima, a equipe da perícia criminal encontrou o crânio e outras partes ósseas do corpo.
No mesmo período da investigação inicial, a Polícia Civil de Minas Gerais encaminhou um Boletim de Ocorrência sobre o registro do desaparecimento feito por familiares, acrescentando informações úteis aos autos. Com o deferimento de medidas cautelares judiciais associadas a outras técnicas de apuração, foi possível refazer os últimos passos da vítima. Havia indícios de que, de fato, o suspeito usava o telefone da vítima, culminando na prisão do suspeito e na localização do seu cadáver em uma área de floresta a cerca de 40 km da sede de Uruará. No momento da prisão, o suspeito colaborou com a equipe policial e indicou que, utilizando uma motocicleta, levou a vítima em uma mala e descartou o corpo cerca de um quilômetro dentro da floresta”, concluiu o delegado.
A Polícia Civil acionou a Polícia Científica, que procedeu com a realização da perícia no local onde a mala foi encontrada.
No local foram encontrados diversos pertences da vítima, incluindo um cartão de crédito; além da mala, havia cordas, liga, cinto, lençol e algumas roupas da vítima.
O crime que parecia perfeito aos olhos do autor acabou sendo desvendado pelo brilhante trabalho investigativo da Polícia Civil do Pará em Uruará.
Wandeilson de Assis Barbosa está preso na Delegacia de Polícia Civil em Uruará à disposição da justiça.
Fonte: Gazeta Real